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A Arte de Deixar Ir

A vida nunca nos pertence por inteiro. As pessoas não nos pertencem. Os momentos, por mais intensos, não se deixam capturar. Tudo o que temos, no fundo, é a dança sutil do tempo nos mostrando que nada fica para sempre. E talvez seja exatamente aí que resida a beleza da existência: na impermanência.


Nós passamos tanto tempo tentando segurar as coisas entre os dedos, com medo de perder, que nos esquecemos de apenas viver. Queremos que certos amores durem para sempre, que determinadas fases da vida nunca terminem, que as pessoas permaneçam ao nosso lado incondicionalmente. Mas a verdade é que tudo tem seu ciclo, sua hora de chegar e sua hora de partir. E, por mais que doa, aprender a soltar é um dos maiores atos de amor que podemos oferecer a nós mesmos.


A impermanência da vida nos ensina a apreciar o agora, porque o agora é tudo o que temos. Nos faz entender que o riso de hoje pode não se repetir amanhã, que o abraço apertado de agora pode ser uma lembrança no futuro, que o amor mais bonito pode se transformar em saudade. Mas isso não significa que essas coisas perderam o valor – pelo contrário, significa que foram valiosas o suficiente para deixar marcas mesmo depois de partirem.


O grande problema é que fomos ensinados a ver o fim como fracasso. Como se tudo que não fosse eterno tivesse sido insuficiente. Como se despedidas fossem sempre um sinal de que algo deu errado. Mas e se aceitássemos que o propósito de algumas pessoas é apenas passar pela nossa vida e não ficar? Que alguns sentimentos vieram para nos ensinar, não para nos acompanhar para sempre?


Quando entendemos a impermanência, aprendemos a amar sem prender, a viver sem esperar que as coisas sejam eternas, a agradecer pelo que foi ao invés de sofrer pelo que acabou. Porque o que realmente importa não é a duração, mas a intensidade e a verdade de cada momento.


A vida não é um álbum de fotografias fixas; ela é um filme em constante movimento. E se há algo que podemos aprender com isso, é que a maior liberdade vem quando paramos de resistir ao fluxo natural das coisas. Quando deixamos o tempo seguir seu curso sem tentar controlar cada detalhe.


Que possamos aprender a celebrar as chegadas sem medo das partidas. Que possamos amar sem a necessidade de posse, viver sem a ilusão de controle, e aceitar que o que é para ser nosso sempre encontra um jeito de ficar – mesmo que seja apenas dentro de nós.


Talvez a beleza da vida não esteja no que permanece, mas no que passa, no que nos transforma, no que nos ensina a continuar, mesmo depois de cada despedida.

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