A ilusão que chamei de amor
- Douglas Ribeiro
- 6 de mar.
- 2 min de leitura
Eu não me apaixonei por você.
Dói admitir isso agora, depois de tanto tempo acreditando que o que eu sentia era real. Mas a verdade é que não foi você que eu amei. Eu me apaixonei pela ideia que criei de quem você poderia ser. Pelas projeções que fiz, pelos espaços vazios que preenchi com as minhas próprias expectativas.
Eu te vi como queria ver, não como você realmente era.
Achei que o seu silêncio fosse mistério, quando, na verdade, era apenas desinteresse. Achei que seu afastamento fosse medo, quando, na verdade, era descaso. Achei que suas respostas vagas fossem enigmas a serem decifrados, quando, na verdade, não havia nada além do que estava na superfície.
Eu me prendi a momentos bonitos e ignorei os sinais que gritavam que algo não estava certo. Me agarrei às suas palavras quando elas me favoreciam, e fechei os olhos para as atitudes que diziam exatamente o contrário.
Talvez eu tenha gostado mais da emoção de sentir do que da verdade do que sentia.
Porque, no fundo, eu sabia. Eu sabia que o amor não deveria ser feito de tanta dúvida, de tanta espera, de tanto esforço para caber no espaço que o outro nos dá. Mas, ainda assim, insisti. Porque amar a ideia de alguém às vezes é mais fácil do que encarar o vazio que fica quando a ilusão se desfaz.
Mas ilusões não duram para sempre.
E um dia, a realidade bate à porta. Um dia, percebemos que estamos sozinhos em um amor que deveria ser compartilhado. Que seguramos com força algo que nunca esteve realmente em nossas mãos.
E então vem a dor. Não pela perda, mas pela consciência de que, no fundo, nunca tivemos aquilo que tanto acreditávamos.
Hoje, eu entendo.
O amor verdadeiro não exige que inventemos alguém para conseguir amar. Ele é simples, inteiro, recíproco. Não vive de suposições, de esperanças vãs, de esperas que nunca terminam.
E, agora que vejo isso com clareza, posso finalmente me despedir não de você, mas da ilusão que um dia chamei de amor.
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