EPISÓDIO 6 – UM PASSADO QUE PESA
- Douglas Ribeiro
- 13 de mar.
- 2 min de leitura
Depois daquele café em Santa Teresa, Olívia voltou para casa sentindo que havia aberto uma porta que não sabia se queria atravessar.
Vicente era intrigante. Mas não do jeito superficial de quem tenta parecer interessante. Era algo mais profundo, um silêncio cheio de histórias que ele não contava.
E Olívia sentia que, se se aproximasse demais, poderia acabar descobrindo coisas que não estava preparada para saber.
Mas o destino não se importa com os medos da gente.
Dois dias depois, estava andando pelo Largo do Machado quando o viu.
Vicente estava parado na calçada, conversando com um homem mais velho, de terno. A expressão séria, os braços cruzados, como se tentasse se controlar.
Olívia desacelerou os passos, observando de longe.
O homem falou algo, e Vicente apertou o maxilar.
Então, sem aviso, deu um passo à frente e segurou o homem pelo braço.
O outro se afastou, dizendo algo que ela não conseguiu ouvir.
Por instinto, puxou o celular e, sem pensar, clicou.
Uma foto.
Vicente olhando para o homem, o olhar carregado de algo que ela não soube nomear.
Segundos depois, o homem se virou e entrou em um carro preto.
Vicente ficou parado na calçada por alguns instantes. Respirou fundo, passou a mão pelos cabelos e, então, ergueu os olhos.
E a viu.
Olívia congelou.
Ele caminhou até ela, sem pressa, os olhos presos nos dela.
— Você me seguiu?
Ela piscou, surpresa.
— Não! Eu só… estava passando.
Vicente estudou seu rosto por um instante, como se tentasse decidir se acreditava ou não.
— E então resolveu tirar uma foto?
Ela abriu a boca para responder, mas hesitou.
A verdade era que nem ela sabia por que tinha feito isso.
Talvez fosse o instinto de fotógrafa. Ou talvez, no fundo, já soubesse que Vicente carregava uma história que queria contar.
Ele suspirou.
— Apaga.
— O quê?
— A foto.
Olívia franziu a testa.
— Por quê?
Vicente olhou ao redor, como se escolhesse as palavras.
— Porque tem coisas que não devem ser registradas.
Ela não respondeu de imediato.
Mas então, sem tirar os olhos dele, desbloqueou o celular e apagou a imagem.
Vicente observou, parecendo satisfeito.
— Obrigado.
Ela cruzou os braços.
— Agora você me deve uma explicação.
Ele riu de leve, mas não disse nada.
E então, antes que ela pudesse insistir, ele deu um passo para trás e falou:
— Quer mesmo saber? Então vem comigo.
E, sem esperar resposta, começou a andar.
Olívia ficou parada por um segundo.
Então, respirou fundo.
E seguiu ele.
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