A bagunça que você deixou em mim
- Douglas Ribeiro
- 25 de fev.
- 2 min de leitura
Houve um tempo em que guardei você em cada canto de mim. Em fotografias que eu não conseguia apagar, em conversas antigas que relia no silêncio da madrugada, em músicas que doíam mais do que acalmavam. Você estava nas gavetas da minha memória, ocupando espaços que deveriam ser meus.
Mas, aos poucos, percebi que você era como aquelas coisas que insistimos em manter, mesmo sabendo que já não nos servem mais. Como roupas que não cabem, bilhetes sem sentido, objetos que só acumulam poeira e lembranças. A gente guarda por apego, por nostalgia, por medo de admitir que já não faz mais sentido.
Eu precisei te jogar fora. Assim mesmo, de maneira brusca, sem cerimônia, como um saco de coisas velhas que a gente empurra para fora de casa num dia de faxina. Sem olhar para trás, sem sentir pena, sem me perguntar se um dia voltaria a precisar de você.
Porque eu não preciso.
O que eu sentia por você já passou do prazo de validade, se desgastou como algo que não foi bem cuidado. E, mesmo sabendo disso, por muito tempo insisti em manter seus restos por perto. Como se a sua presença, ainda que na sombra, me fizesse companhia. Como se ainda houvesse alguma utilidade no que sobrou de nós.
Mas há um alívio imenso em se desfazer do que pesa.
Foi assim que entendi que o amor verdadeiro nunca deveria precisar ser guardado às pressas, como algo que tememos perder. Amor de verdade fica sem precisar ser forçado. E se eu precisei esconder partes de mim para manter você, então nunca foi amor — foi acúmulo.
Então, hoje, eu te jogo fora. Sem culpa, sem hesitação. Porque agora, no espaço que você ocupava, cabe algo muito maior: a paz de quem finalmente aprendeu a se livrar do que já não faz sentido.
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