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A cura veio pela dor

No começo, a dor parecia insuportável. Ela tomava conta dos meus dias, preenchia os espaços vazios que você deixou, me fazia reviver cada cena, cada palavra, cada promessa quebrada. Eu tentava entender como alguém que dizia me amar pôde me ferir tanto. Tentava encontrar uma explicação que fizesse sentido, algo que justificasse o que você fez, algo que me desse paz.


Mas a paz não vem quando ficamos procurando respostas em quem nunca nos ofereceu verdades.


Foi então que eu entendi: a dor que você me trouxe não era um castigo, era uma lição. Cada ferida que você abriu foi, na verdade, um caminho para que eu pudesse me curar de você.


Eu precisei sentir tudo. A raiva, a mágoa, a tristeza, a saudade. Precisei me perder na confusão de sentimentos até entender que a dor não era sinal de que eu ainda te queria, mas sim de que eu estava finalmente me libertando. Foi no meio do sofrimento que eu percebi o quanto me anulei para tentar te manter por perto. O quanto eu me diminuí para caber no espaço pequeno que você me dava. O quanto eu me perdi tentando te encontrar.


Mas, ironicamente, foi a sua ausência que me devolveu a mim mesmo.


Com o tempo, a dor foi se transformando. Aquilo que antes me esmagava começou a me fortalecer. Cada lágrima foi lavando um pouco da sua presença, cada lembrança dolorosa foi perdendo o impacto, cada cicatriz foi me lembrando que eu sobrevivi. E então, um dia, eu percebi: eu não sentia mais nada. Nem raiva, nem tristeza, nem saudade.


A cura chegou de mansinho, sem alarde. E quando eu dei por mim, já não existia mais você dentro de mim.


Então, obrigado. Obrigado por me ensinar, ainda que da forma mais cruel, que eu sou capaz de me reconstruir. Obrigado por ter me mostrado, mesmo sem querer, que a dor não é o fim — é apenas o caminho que nos leva de volta para nós mesmos.

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