A coragem de partir

Ficar parece ser sempre a escolha mais fácil. Ficar nos dá a ilusão de segurança, nos mantém dentro do que já conhecemos, mesmo que isso signifique suportar menos do que merecemos. A gente se acostuma ao desconforto, ao quase, ao mínimo. E chamamos isso de amor, de paciência, de resiliência. Mas, no fundo, às vezes é só medo de ir embora.

Ir embora exige coragem. Exige aceitar que algumas coisas não vão mudar, que certas histórias não têm conserto, que não adianta segurar o que já escorreu pelos dedos. Ir embora é admitir que tentamos, que insistimos, que demos o nosso melhor, mas que nem sempre isso é suficiente. E tudo bem. Nem tudo é para durar. Nem todo laço é para sempre.

O difícil é entender isso no momento da despedida. Porque ir embora nunca é só um ato físico. É um processo. A gente vai mesmo antes de sair. Vai nos silêncios, nas decepções repetidas, nos dias em que nos sentimos sozinhos mesmo estando acompanhados. A verdade é que, muitas vezes, já fomos há muito tempo, só falta admitir.

E quando, finalmente, decidimos partir, vem o medo. Medo do vazio, da saudade, da incerteza. Medo de olhar para trás e duvidar da decisão. Mas o que a gente esquece é que nada machuca mais do que ficar onde já não pertencemos. Nada sufoca mais do que insistir no que já não nos faz bem.

Com o tempo, percebemos que ir embora não é perder. É ganhar de volta a si mesmo. É abrir espaço para algo novo, para algo que realmente nos preencha. É deixar de lado o medo da solidão e entender que estar sozinho é sempre melhor do que estar mal acompanhado.

Então, se o seu coração está gritando que é hora de partir, ouça. Não se prenda a promessas vazias, não se agarre a histórias que já acabaram, não espere que o amor volte onde ele já não existe. Ir embora dói, mas ficar onde não há mais nada dói muito mais.

E um dia, quando a dor da despedida passar, você vai se olhar no espelho e ver nos próprios olhos a paz de quem teve coragem de escolher a si mesmo.